Intervenção Urbana
"Metonímia... A mão que afaga, apedreja"
Por Flaw Mendes
Neste artigo mostro um pouco do processo de produção da intervenção urbana, da ideia à realização.
O ano era 2011, estava estudando sobre intervenção urbana e sobre site specific na especialização de artes visuais do SENAC. Provavelmente teve um exercício, neste momento não recordo se teve realmente.
E comecei a pensar onde na minha cidade eu poderia fazer uma intervenção urbana. Pensei nos lugares mais obvieis. Mas, queria algo mais. Que tivesse sentido mais próximo pra mim. Fui buscar. Eis que caminhando por uma praça percebi que acompanhei todas as mudanças sofridas por ela, é um lugar de passagem obrigatória se eu quisesse ir ao centro, à universidade, ao estágio ou até mesmo pra sair da cidade.
O tempo passou e fiz um exercício, imaginei algo para aquele lugar que já figurava em minha memoria afetiva e que estranhamente eu não sabia o seu nome.
Não saber o nome da praça foi o gatilho. Disparei uma pesquisa intensa e cheia de lacunas sobre aquele lugar. Quanto mais buscava informações mais se adensava as relações, os interesses e os temas dos quais poderia abordar.
Você sabe qual é o nome da Praça do Giradouro do Viaduto em Campina Grande? Essa questão está sem resposta na cabeça de muita gente. E esse questionamento foi o que me motivou a criar uma Intervenção Artística bem no centro da Praça.
Já revelei bastante. Vamos voltar ao início. Vai parecer um pouco confuso (e meu processo é assim mesmo, rs!), mas ao final tudo se junto e dá pra entender direitinho (espero).
Nesse entremeio, para executar o que já tinha pensado precisava comprar tamarindos para extrair as sementes. E como é de praxe fiz uma pesquisa sobre a fruta. Me chamou a atenção o seguinte:
O Tamarindo
"No Sudeste Asiático e na índia,
era atribuída ao tamarindeiro
a fama de ser morada de influências maléficas,
sendo seu perfume, sua sombra
e objetos perigosos,
produzidos de seu tronco.
Segundo a tradição, as armas
que possuíssem bainha feita de sua madeira
teriam poderes para dominar
o mais temível inimigo,
até mesmo os considerados invulneráveis."
A essa altura você já percebeu a referência do título que dei a intervenção, né? Aqui vai mais uma pista.
DEBAIXO DO TAMARINDO
Augusto dos Anjos
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos.
Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!
E para manter uma conexão maior... O Tamarindeiro que deu origem ao poema que estamos nos apropriando nesta intervenção. Imagem retirada do Blog do poeta e amigo, Jairo Cézar. na Realização do V CELEBRANDO AUGUSTO DOS ANJOS
Esse poema do Tamarindo está no Livro EU, e na ocasião completava 100 anos da publicação de sua primeira edição. Como meu trabalho é atravessado por literatura, aproveitei o gancho. Fiz cem mudas de tamarindo, juntei à essas mudinhas uma folha com o poema.
Faltava algo, a essa altura. Foi então que resolvi fazer uma réplica da capa do livro. A semântica do título do livro é muito poderosa e apropriada para o que eu queria. Queria chamar a atenção para a praça, que ela gritasse: EEEEUUUU, existo! Me conheçam!
A intervenção aconteceu sob o Viaduto Elpídio de Almeida, a ação, intitulada "Metonímia... A mão que afaga, apedreja", na praça conhecida como "Praça do Giradouro do Viaduto”, e abordou questões que transitam entre patrimônio, meio ambiente e a relação da sociedade com o bem público, propondo-se a promover uma ampla reflexão.
Neste trabalho a relação arte/apreciador é levemente deslocada, o normal em uma exposição é levar o observador a entender e/ou sentir a obra, neste caso o indivíduo terá um contato com o conceito principal da obra, sem que se faça necessário entendê-lo. Ou seja, a prioridade não se concentra na informação que o observador venha a adquirir, e sim o seu contato, mesmo que inconsciente, com a memória do lugar.
A Intervenção teve um caráter efêmero e aconteceu sob o Viaduto Elpídio de Almeida no dia 27 de abril de 2012, numa sexta-feira, e permaneceu por alguns dias.
A mesma proposta foi selecionada para participar da 6ª Bienal do Esquisito realizada pelo Museu Olho Latino, no ano de 2012, no Centro de Convenções “Victor Brecheret”, em Atibaia (SP).
Realizar um trabalho como esse é muito difícil. "A Metonímia... A mão que afaga, apedreja" é uma intervenção que contou com muitos parceiros para ficar pronta. Amigos, artistas, parentes e até desconhecidos contribuíram para chegar onde chegamos.
Reservo a este post o apoio institucional que tive.
Cozinha de Produção (cozinhadeproducao@gmail.com),
SESC - Paraíba,
Colégio Motiva,
Studio Conquista (conquiste2010@hotmail.com)
Gostaria de agradecer neste post aqueles que me ajudaram nesta obra. Começando pelo incentivo da turma do SENAC - Especialização em Artes Visuais; a minha família - alguns mesmo sem entender deram a maior força; aos amigos tão queridos, muitos ajudaram efetivamente, outros a distância, mas todos uma ajuda imensurável; ao pessoal que ajudou a divulgar - galera, valeu mesmo!; as instituições que mesmo não tendo tempo de se articular, internamente, e contribuir mais, foram muito prestativas.
Esta fotografia foi tirada instantes antes da desmontagem, com os queridos Arnilson Montenegro, Vivianne Souza e Lucas (in ventre, rs!).
E para não passar e branco, uma foto da edição do vídeo que foi enviado para a 6ª BIENAL DO ESQUISITO, Museu Olho Latino - Atibaia - SP. A abertura da Bienal será dia 05 de maio de 2012.
Em tempo, posto o vídeo e mais notícias sobre a "Metonímia... A mão que afaga, apedreja"
O vídeo abaixo é uma síntese do que aconteceu durante sua montagem e o período que ficou exposta. Neste vídeo pude contar com a generosidade do pessoal do Oxent Groove que permitiu a utilização de suas músicas, que deu um toque muito especial ao trabalho. Fica o agradecimento, valeu! A edição ficou por conta de Luis Silva, muito obrigado, amigo! Um abraço a todos! Um abraço a todos!
Segue o vídeo:
METONÍMIA... A MÃO QUE AFAGA, APEDREJA
Intervenção Urbana, POR FLAW MENDES
Campina Grande – Paraíba – Brasil
Abril / Maio de 2012
6ª BIENAL DO ESQUISITO
MUSEU OLHO LATINO
CONTRIBUIÇÃO:
ARNILSON MONTENEGRO
CRISTIANE LEANDRO
EUGÊNIO RODRIGUES
FABIANO VELOSO
FÁBIO LUAN
FLÁVIO SILVESTRE
LUIS SILVA
MOEMA VILLAR
PETRUS VINICIUS
SEVERIANO JOSÉ
VIVIANNE SOUZA
WAGNER PINA
CONTRIBUIÇÃO INSTITUCIONAL:
COZINHA DE PRODUÇÃO
SESC –CENTRO – CAMPINA GRANDE
COLÉGIO MOTIVA
CONQUISTE – FOTO E FILMAGEM
DIREÇÃO:
FLAW MENDES
ASSESSORIA DE IMPRENSA:
CRISTIANE LEANDRO
FILMAGEM E EDIÇÃO:
LUIS SILVA
MÚSICAS:
Arabaião e BR Blues
OXENT GROOVE
Vejam o belíssimo trabalho que a turma do Programa Diversidade, da TV Itararé preparou.
Pessoal sempre muito profissional e com um respeito ao artista incomparável.
Muito obrigado a toda equipe!
Se a essa altura não sacou qual o nome da praça é hora de revelar.
Metonímia... A mão que afaga apedreja - Intervenção Urbana por Flaw Mendes - Pç. Poeta Augusto dos Anjos
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